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“Novo normal”: TI vive auge em meio ao caos

Daniela Maciel – Diário do Comércio

Apontada por praticamente todos os setores como a solução para o enfrentamento do caos econômico trazido pela pandemia e a construção de um “novo normal” quando, pelo menos, a fase mais aguda da crise passar, a Tecnologia da Informação (TI) também tem a sua própria transformação para tocar.

Responsável por operacionalizar a digitalização de negócios, a TI, acostumada a índices constantes de crescimento, vive, talvez, o seu maior surto de desenvolvimento tanto em novos clientes como em robustez de projetos em setores mais íntimos da tecnologia.

Pesquisa realizada pela Spring Professional mostrou que as companhias de tecnologia são as que mais permaneceram com ritmo de contratações pré-pandemia, totalizando 23%. Entre os profissionais mais requisitados, segundo a Pagegroup, estão o líder de cibersegurança e o especialista em nuvem.

Cada vez mais preditiva e acelerada pela digitalização em massa, a TI se aproxima do campo estratégico e abandona definitivamente o estereótipo do “menino do suporte”, detentora de um conhecimento inalcançável para os simples usuários. As entregas desmaterializadas e o modelo de assinatura de serviços, já comum mesmo antes do Covid-19, induzem um modelo que já ultrapassa o consultivo e se coloca como apoiador direto das tomadas de decisões da alta gestão.

E assim o “novo normal” da TI já passou cinco minutos antes do “novo normal” dos demais setores e pavimenta a pista para que os outros possam andar com um pouco menos de dificuldade. As próximas tecnologias talvez não precisem ser inventadas, mas, certamente, serão, cada vez mais, dedicadas e customizadas.

ISOLAMENTO DEVE PROMOVER MUDANÇA CULTURAL

O isolamento social, imposto como medida profilática ao Covid-19 nos últimos cinco meses, levou a um movimento de digitalização dos negócios em massa jamais visto. A partir disso, profissionais e empresas especializados em Tecnologia da Informação (TI), que já faziam parte de um mercado aquecido, se viram em meio a um turbilhão de pedidos e dúvidas.

As empresas que estavam estruturadas e gozavam de boa saúde financeira estão aproveitando a onda para crescer e diversificar atividades. Para o vice-presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação de Minas Gerais (Assespro-MG), Fernando Santos, mais do que uma aceleração ou radicalização do uso da tecnologia, o pós-pandemia deve promover uma mudança cultural.

“Não é apenas a antecipação do uso de uma ou outra ferramenta em alguns anos, é a mudança no modo como vivemos e percebemos o mundo. Uma coisa muito importante para a empresa e para o usuário não é a tecnologia em si, mas a transformação das pessoas. É uma transformação de mentalidade. Isso já pode ser visto”, afirma Santos.

Toda essa mudança implica na necessidade de uma mão de obra volumosa e bem formada. Segundo o especialista, no cenário pré-pandemia já havia a previsão de um déficit de 400 mil profissionais de TI no Brasil até 2024. E, apesar de ser um estado formador de mão de obra, a situação tende a piorar em Minas Gerais como no resto do País. Hoje, o Estado é o terceiro que mais forma profissionais para o setor, porém está apenas na oitava colocação quando o assunto é a retenção desses talentos.

“Claro que o setor de TI não vive a pandemia todo da mesma forma. Serviços nichados, como para locadoras de veículos, por exemplo, tiveram um impacto negativo muito grande. O mesmo para quem atende bares e restaurantes. Em contrapartida, empresas de análises de dados, ferramentas para trabalho remoto, tecnologia para varejo, tiveram um crescimento exponencial. Também cresceu a demanda para ferramentas com viés mais analítico, de BI, de extração de dados e os investimentos em cibersegurança. Mas no geral, podemos dizer que o cenário de falta de mão de obra qualificada tende a se agravar”, explica.

Infraestrutura – Além da escassez de profissionais, o Brasil ainda enfrenta dois grandes problemas no caminho da construção desse “novo normal” da TI estratégica: a infraestrutura ruim de comunicação e a defasagem educacional piorada pela desigualdade entre os sistemas público e privado de educação.

“Temos que pensar até que ponto a tecnologia é, mesmo, inclusiva. Em um cenário de desigualdade gritante como o nosso, ela pode aumentar as diferenças. A tríplice hélice tem que funcionar: faculdade, empresa e governo. O governo tem um papel fundamental para criação de uma infraestrutura para negócios e para pessoas. É fundamental que as empresas entendam que ter maturidade digital é uma questão de sobrevivência. A tecnologia deve ser entendida como parte da estratégia, sendo um investimento e não um custo”, pontua o vice-presidente da Assespro-MG.

ALUGUEL DE EQUIPAMENTOS E CLOUD COMPUTER EM ALTA

O home office imposto pelo combate ao Covid-19 alterou a rotina de boa parte dos trabalhadores brasileiros. De acordo com pesquisa divulgada pela Fundação Instituto de Administração (FIA), 46,7%, das empresas foram obrigadas a adotar o trabalho remoto nesse período. Nenhum setor, porém, foi mais diretamente atingido que o de Tecnologia da Informação (TI), o responsável por habilitar a digitalização dos demais.

Segundo o co-CEO da Agasus, João Lima, houve crescimento de 300%, no início da pandemia, no segmento de aluguel de curto prazo. A empresa, sediada em São Paulo há duas décadas, é especializada na locação de equipamentos como notebooks, tablets e smartphones.

“Logo no início da pandemia as pessoas não tinham equipamentos para o home office e o aluguel de curto prazo explodiu. Agora cresce o aluguel de longo prazo porque as empresas experimentaram o modelo e muitas já decidiram que não voltam para o modelo físico ou vão adotar modelos híbridos. Na Agasus tínhamos uma alta disponibilidade de equipamentos e não tivemos problemas para atender a demanda. Estávamos preparados para seguir o crescimento que vínhamos, que era de 15% a 25% ao ano. Esse ano teremos, pelo menos, 50%, acelerados pela pandemia”, explica Lima.

Em Minas Gerais, a Agasus registrou crescimento de 25% no primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019. O destaque do Estado vai valer a implantação de uma base operacional na Capital, em 2021.

Sobre as vantagens do aluguel, o empresário destaca, do ponto de vista operacional, a instalação e configuração dos equipamentos, controle, gestão e agilidade nas solicitações, logística de ponta a ponta e backup de equipamentos on site. Os clientes também têm suporte ilimitado e sem custo adicional para manutenção durante todo o período de locação, garantia de funcionamento e a logística reversa ao final do contrato.

“O aluguel tira a dor de precisar investir tudo de uma vez, especialmente com a alta do dólar. A locação é uma mensalidade que você dilui no seu caixa. A TI é a ferramenta do presente. Não podemos esperar para reagir, para que as pessoas sejam produtivas e as empresas operem com segurança. Entendo que o novo normal não é tão novo, já chegou há, pelo menos, seis meses. A equipe da TI ganhou relevância estratégica”, avalia o co-CEO da Agassus.

Cloud – Estrela da transformação digital imposta aos mais diferentes negócios durante a pandemia, a tecnologia em nuvem deu ainda mais impulso a um mercado que já vinha aquecido. A SGA Tecnologia Inteligente, sediada na região Oeste de Belo Horizonte, por exemplo, fecha o primeiro semestre de 2020 com crescimento de 87,5%, em comparação com o mesmo período do ano passado. O resultado eleva, segundo o CEO da SGA, Armindo Sgorlon, as expectativas da empresa de faturar cinco vezes mais até 2024.

Especializada em nuvem, a SGA cria soluções para desafios relevantes que afetam empresas de diversos segmentos e portes, por meio de novas tecnologias que envolvem datacenter, aplicações em nuvem, ciência de dados e inteligência artificial transformando todas as áreas de um negócio. O objetivo é diminuir os custos operacionais, garantir mais eficiência, reduzir os riscos, atuando sempre em conjunto com a área de TI.

“Criamos soluções para desafios reais por meio de novas tecnologias, ciências e inteligência de dados. Usamos a TI para transformar a área de negócios. Claro que também precisamos fazer ajustes na forma que íamos para o mercado, entendendo os desafios para as empresas. Vimos um processo em que as empresas foram aceleradas para a digitalização, se adaptando ao novo normal em função do isolamento”, relembra Sgorlon.

Para ele, neste momento e no futuro mais próximo o papel da TI é garantir a escalabilidade dos projetos das demais empresas. E, a partir disso, entender que existem dois caminhos possíveis, o da commoditização ou de se tornar realmente estratégica, se aproximando e subsidiando com conhecimento os centros de tomada de decisão.

“Acredito numa TI muito mais consultiva. Ainda é um processo novo para muitas empresas. A nuvem tem se tornado a base da transformação digital. A pandemia trouxe mais investimentos em nuvem enquanto dentro de casa diminuiu. Nesse processo o primeiro passo é a modernização do datacenter e o uso inteligente de dados e aplicação de inteligência artificial. Os dados são o novo petróleo. Trazem inteligência competitiva para o negócio. O profissional de TI tem um papel muito relevante nesse processo. Quando falamos em digitalização, estamos falando em conveniência. O profissional estar do lado do CEO, liderando a empresas”, destaca Sgorlon.